quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

Sentirei sua falta, 2014!

Querido 2014, apesar de todos os problemas recorrentes, das provações que parecem não passar, da morte do meu escritor preferido... você realizou um grande sonho, me fez enfrentar um medo pavoroso, me deu uma filha 100% recuperada, me deu um novo amor, férias de 30 dias depois de 3 anos sem folga, um blog ativo, uma demissão surpreendente e um novo emprego... até que vou sentir sua falta!!



Minha Memes encerrou suas aplicações de quimioterapia e está linda de novo! 













Chile e Austrália, na Arena Pantanal, em Cuiabá-MT, pela Copa do Mundo no Brasil












Cuiabá-MT, uma das 12 cidades-sedes da Copa do Mundo no Brasil












Chile e Austrália, na Arena Pantanal, em Cuiabá-MT, pela Copa do Mundo no Brasil












Centro Velho de Cuiabá-MT













Nas asas de um avião azul...













Zé Luís morava no estacionamento de um prédio e foi para a casa como lar temporário por dois dias. Mas, com essa cara de conquistador, ficou para ser meu novo amor... Todos os dias me divirto apertando essas orelhas moles e macias... Agora, são quatro!!













E elas? Elas continuam sendo o Batman e o Robin e alegrando a minha vida!!










sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Querido Papai Noel...




Querido Papai Noel

Meu nome é Fernanda e sou uma codependente em crise. Eu odeio final de ano. Na minha casa, Natal e Ano Novo nunca foram motivo de festa. Na minha memória, poucas vezes tivemos comemorações nessa data. Nunca tivemos uma árvore de Natal ou qualquer outro tipo de decoração. E as músicas felizes que ouvimos eram de um disquinho que eu ganhei na farmácia um ano em que tive intoxicação alimentar e passei a véspera de Natal tomando injeção.

A casa sempre ficava triste nessas datas porque meu pai se lembrava da mãe dele, que morreu antes de eu nascer. Então, o clima nunca ficava bom por lá.

Quando eu era adolescente, gostava da noite de Natal e Ano Novo porque queria abraçar os meninos bonitos na praça. Depois, isso passou, e voltei a não ter mais motivos para sorrir no mês de dezembro porque todo final de ano passou a ter uma tragédia na minha vida.

Talvez nem tudo tenho sido tão ruim, mas acabei associando uma coisa a outra. Esse ano, algumas coisas não tão boas já aconteceram, mas estou tentando não culpar os últimos meses de 2014. Mas vamos combinar que o ano poderia ir de 15 de janeiro a 15 de setembro. Caso fique na dúvida para o meu presente do próximo ano, lembre-se disso. Eu iria gostar.

Mas, hoje, o que me deixa mais arrasada nessa época mesmo é saber que muitas crianças vão ficar sem presente. Nas cartinhas que elas te enviam muitas nem sabem bem o que pedir, tamanha a carência delas. Pedem qualquer coisa porque não têm nada.

Como eu te disse, sou uma codependente. Sofro todos os dias porque não tenho condições de abrigar os cães deixados à própria sorte pelas ruas. Gostaria de cuidar de todos eles como cuido do meu quarteto de amor - Mel, Juana, Xuxinha e Zé Luís. Mas já entendi que não dá. Os recursos são limitados. Físicos, financeiros e emocionais. Acho que não suportaria tantas perdas. 

Passo o ano todo tentando me convencer disso e aí chega o Natal e, junto com os animaizinhos abandonados, tem as crianças que pedem material escolar, roupa e até comida porque os pais não têm condições de lhes dar
isso.

Sabe, eu entendo que essa é a necessidade física deles, mas, para que a magia do Natal seja de verdade para outras crianças, diferente do que foi e é para mim, acho que elas deveriam ganhar brinquedos. Tenho certeza que de barriga cheia tudo fica mais bonito e colorido, mas um boneco do Homem Aranha ia fazer uma criança mais feliz, pelo menos por hoje, do que um copo de leite.

Sei lá, pode estar tudo errado. Mas eu sei que tudo isso tem me feito muito mal. E nem adianta vir me falar em aceitação da proposta encarnatória. Não dá. Agora não. Os dias estão cinzas, não tenho tido disposição para muita coisa. Só ver o tempo passar. Espero que passe logo. 





segunda-feira, 8 de setembro de 2014

"Belo Belo, Tenho Tudo Quanto Quero"




Confesso que tenho uma certa, não, uma grande resistência em ler autores que não são consagrados. Na indecisão do que ler agora, fico sempre com alguém que já é dono dos meus dias.

Sempre acho que, embora o sujeito tenha ganhado um prêmio aqui e outro ali, o que vou encontrar é ainda um embrião de bom escritor, bom. Muitas vezes, foi isso que aconteceu, e eu desisti do livro e do autor, para sempre.

Mas, às vezes, a vida nos surpreende. E não é para pior, como costuma ser. 

No final de semana, depois de ler "Caim", sobre o qual vou escrever mais tarde, fiquei no impasse do que seria... 

Quando percebo que o ritmo de leitura está bom, costumo optar por livros menores e diminuir a angústia de saber que vou morrer e não vou conseguir ler todos os livros que quero. Inicialmente, escolhi "A Hora da Estrela", uma história que conheço há mais de 20 anos, mas por meio de outros, mas que, também por motivos que devo relatar mais tarde, abandonei lá na página 32.  

Foi então que me veio à mão "Um Beijo de Colombina", um livro de Adriana Lisboa que ganhei da Editora Rocco na Bienal do Livro de São Paulo em 2004. Foram muitas tentativas de lê-lo nestes dez anos, porém, nos momentos em que me deparei com ele, senti que não teria estrutura emocional para a leitura.

Em "Um Beijo de Colombina", um homem narra sua história com a companheira logo após a morte dela por afogamento. Todas as vezes, achei que não ia aguentar. Ainda não sei como estarei ao fim do livro, mas chegar até ele não será um problema de ordem literária.

Fiquei surpresa com o texto de Adriana Lisboa, embora muitas vezes a beleza, a sutileza e a intensidade dele sejam influências diretas de Manuel Bandeira.

Neste texto cheio de metalinguagens - algo de que eu não gosto, mas que funciona muito bem "Um beijo" - o narrador é um professor de latim que escreve para passar a dor e usa como referências textos de Bandeira. Este era o mesmo recurso que

Teresa, a companheira que partiu, usaria em seu novo romance. Ela era escritora, tinha dois livros de poesia e um romance bem sucedido publicados.

Todos 
os capítulos têm nomes de poemas de Bandeira e cada um deles faz referência a pelo menos dois textos do autor. Para a minha felicidade, Adriana Lisboa cita no final todos os poemas que usa em sua prosa... e cá estou eu enlouquecida lendo dois livros ao mesmo tempo...

Sim, peguei minha querida amada adorada "Antologia" de Bandeira para acompanhar a "Colombina". Só por isso, a leitura não rendeu mais... 

Estou apaixonada pela história, pelo texto, apesar da angústia da dor da perda do personagem... 


Para quem quiser mais referências, Adriana Lisboa recebeu o Prêmio José Saramago por "Sinfonia em Branco", foi finalista do prêmio Jabuti na categoria romance com "Colombina" e recebeu o prêmio Autor Revelação da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil com "Língua de Trapos" e Moinho Santista pelo conjunto da obra. Ela também pode ser encontrada na coletânea "25 Mulheres que estão fazendo a nova Literatura Brasileira", da Editora Record, organizado por Luiz Ruffato, outro presente da Bienal de 2004 que leio aos poucos. 

Se você não tem os meus bloqueios, siga em frente! O próximo passo é procurar outros livros dela, mais recentes, porque, dez anos depois, ela deve estar bem melhor. "Belo belo. Tenho tudo quanto quero".

sexta-feira, 5 de setembro de 2014

"Só recolho o gosto infinito das respostas que não se encontram..."

Cecília Meireles é uma das minhas poetas preferidas. Leio e releio seus poemas e sempre me impressiono com a solidão, do desencontro e até o abandono contida neles. Por vezes, são acompanhados de dor; outras, são retratados com leveza e resignação. 

Sempre me identifiquei com eles, e alguns trago nesta seleção. 


"
Mas, nesta aventura do sonho exposto à correnteza,
só recolho o gosto infinito das respostas que não se encontram."

Boa noite e bom final de semana a todos!


"Noções

Entre mim e mim, há vastidões bastantes
para a navegação dos meus desejos afligidos.


Descem pela água minhas naves revestidas de espelhos.
Cada lâmina arrisca um olhar, e investiga o elemento que a atinge.

Mas, nesta aventura do sonho exposto à correnteza,
só recolho o gosto infinito das respostas que não se encontram.

Virei-me sobre a minha própria experiência, e contemplei-a.
Minha virtude era esta errância por mares contraditórios,
e este abandono para além da felicidade e da beleza.

Ó meu Deus, isto é minha alma:
qualquer coisa que flutua sobre este corpo efêmero e precário,
como o vento largo do oceano sobre a areia passiva e inúmera..."



“Permite que eu volte o meu rosto
para um céu maior que este mundo,
e aprenda a ser dócil no sonho
como as estrelas no seu rumo.”


“De tanto olhar para longe,
não vejo o que passa perto,
meu peito é puro deserto.
Subo monte, desço monte.”


“Eu ando sozinha
ao longo da noite.
Mas a estrela é minha.”


“Quem nasceu mesmo moreno, 
moreno de vocação
gosta de mar e sereno, 
de estrela e de violão.
Pode até gostar de alguém
Mas nunca deixa a solidão.”


“Tudo em ti era uma ausência que se demorava: 
uma despedida pronta a cumprir-se.”


“Não faças de ti um sonho a realizar. Vai. Sem caminho marcado. Tu és o de todos os caminhos.”






quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Eu não gosto muito, mas você quer mesmo assim?

O blog tem o nome que tem por uma única razão. Eu sou chata. E, consequência disso, motivos para implicâncias chovem na minha frente nas mais diferentes situações, mas, principalmente, com atendentes de lojas e mercados.
Esta semana fui ao mercado comprar pão. A conta deu R$ 2,91. Dei uma nota de R$ 5 para a atendente.
Ela me pergunta: - Tem R$ 1?

Com cara de interrogação, digo: -Tenho, mas... tenho, você quer?
- Sim, responde, decidida.

Fico olhando com espanto, me perguntando se já inventaram uma nota de R$ 3. Não, não inventaram.Ela pega uma nota de R$ 2, uma moeda de R$ 0,10, troca minha moeda de R$ 1 de mão e me devolve com todo o troco.

Talvez ela tenha se perguntado porque passei alguns segundos sem dizer nada, só olhando para ela. Estava buscando palavras para explicar o que ela havia feito. Não consegui. Pelo menos não falei nada pior. Mas pensei, claro.

Agora à noite, Fernanda liga para pedir batata recheada, nossa janta. Escolhidos os sabores da comida, vamos às bebidas.
- Tem suco de limão?

- Não, pode ser de laranja?
- Não, não pode. Você não tem outros sabores, só laranja?

- Tenho, tenho vários...
- Quais?
- Ah, vários...
- Ah, vários... Tem maracujá?
- Tem.
Minutos depois, quando pensávamos que a comida estava a caminho, o telefone toca.
- Oi, aqui é a... Viu, você pediu suco de maracujá, mas eu esqueci de dizer que maracujá é de polpa. Eu não gosto muito, você vai querer mesmo assim?
Queremos sim, querida, assim você não se oferece para vir comer conosco. Obrigada!
 

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Trechos de "Menina Má"


Quando terminei de ler "Travessuras de Menina Má" uma dor insuportável tomou conta de mim... Andressa gritou... Outros choraram... Algumas pessoas não devem ter se abalado... Eu me abalei... porque ela é um ciclo fechado desses insuportáveis e temidos amores que te tiram tudo da alma, o mundo gira, você se transforma, mas quando está novamente diante dele - e isso vai acontecer sua vida toda - não consegue reagir de outra maneira senão se entregar...
A mim, isso parece muito dolorido porque, como diz Ricardito, "você vai e volta e eu continuo a te amar feito um bezerro..."

Separei uns trechos do livro, como faço sempre, para deixar um gostinho de quero ler também...



"Eu me apaixonei por Lily feito um bezerro, a forma mais romântica de se apaixonar - também se dizia queimar feito um tição - e naquele verão inesquecível me declarei três vezes a ela (...) Mas por que as chilenitas, que eram tão livres, não queriam ter namorado?"


"Eu era um imbecil reincidente por ainda estar apaixonado por uma doida, uma aventureira, uma mulherzinha sem escrúpulos com quem nenhum homem, e muito menos eu, poderia manter uma relação estável sem acabar sendo pisoteado.

Mas nos intervalos desses solilóquios masoquistas surgiam outros, de alegria e encantamento: estaria muito mudada? Ainda tinha aquele jeitinho atrevido que tanto me atraía, ou havia sido domesticada e anulada para viver no mundo estratificado dos cavaleiros ingleses?"

"Não nos víamos há quatro anos, e nem passou pela sua cabeça perguntar como eu estava, o que tinha feito todo esse tempo (...) Foi direto ao que lhe interessava, sem perder tempo com mais nada."


"Fiquei vazio e doente. Sentido tanta raiva, tanta desmoralização, tanto desprezo por mim mesmo que tomei - mais uma vez! - a decisão de apagar Mrs. Richardson da minha memória e, para dizer uma dessas breguices que a faziam rir, do meu coração."

"- Sua última ligação me magoou tanto que decidi não ver mais você, nem telefonar, nem procurar, nem pensar na sua existência nunca mais.
- Não está mais apaixonado por mim? - riu.
- Estou sim, pelo visto. Infelizmente. O que você me

contou me dói na alma. (...) Quero que continue me fazendo todas as maldades do mundo."

"Também desta vez, tive certeza de que nunca mais voltaria a saber dela. Como das anteriores, decidi

firmemente, aos 38 anos, que iria me apaixonar por alguém menos evasivo e complicado... Mas não foi isso o que ocorreu, porque na vida raramente as coisas acontecem como planejamos."

"Estava tão feliz que, ao passar pelo janelão de onde se avistava a cidade, pensei que se abrisse um dos vidros e me jogasse no vazio, flutuaria como uma pena sobre aquele interminável manto de luzes. (...) Então, num daqueles segundos ou minutos de suspensão milagrosa, quando sentia que o meu ser inteiro estava concentrado no pedaço de carne agradecido que a menina má lambia, vi Fukuda. 
(...) Ele não havia nos surpreendido, ele estava ali em cumplicidade com a menina má, desfrutando de um espetáculo preparado pelo dois. Eu tinha caído numa emboscada."





"Eu devia ser uma das poucas coisas estáveis na sua vida agitada, o idiota fiel e apaixonado, sempre lá (...) Ou, quem sabe, estava precisando de mim. Não era impossível. De repente tinha aparecido alguma brecha na sua vida que o coisinha à-toa podia preencher."

"-Desde que eu conheço você, não tem feito outra coisa além de me criar problemas. É o meu destino.
E não há nada o que fazer contra o destino."


"Apesar de carinhosa comigo em comparação com o tratamento glacial que me dera no passado, ela de fato conseguia me fazer viver sempre intranquilo, apreensivo com a idéia de que, um belo dia, da maneira mais inesperada, voltaria a aprontar e desapareceria sem se despedir. (...) Não podia entrar na minha cabeça que Lily, a chilenita, aceitasse ser o que era agora pelo resto da vida: uma parisiense de classe média, sem surpresas nem mistérios, imersa numa rotina rígida e sem aventuras."

"Bem no fundo eu sabia que nunca seria uma mulher normal. Nem queria que fosse, porque o que amava nela era também o indômito e imprevisível de sua personalidade."

"Senti um cansaço infinito. Tive a sensação de estar ouvindo um disco que repetia, cada vez mais deformada, a mesma frase musical. (...) Lamentei que ela não tivesse ido embora como das outras vezes, deixando um bilhete"



"Consegui não pensar demais nela nos dias e semanas seguintes e, sentindo-me como um saco de ossos, pele e músculos desprovido de alma, passava o dia todo procurando trabalho."

"- Você tem o péssimo costume de aparecer de repente, feito um pesadelo, nas horas menos esperadas. Mas eu não acho mais graça. Na verdade, não esperava rever você nunca mais. O que quer de mim?"
(...) - Talvez eu até possa fazer maldades com outros. Mas com você, não."


Depois de "Menina má", vou ouvir dezoito vezes seguidas "Golden Slumbers", dos Beatles, numa versão ao vivo do Paul... "Once there was a way to get back 
home..." 

E encerrar meu ciclo com Lily e Ricardito, mas só até que eles voltem a esbarrar em mim em um lugar qualquer e eu descubra que continuo apaixonada por eles feito um bezerro...


terça-feira, 26 de agosto de 2014

"Os Trabalhadores do Mar", de Victor Hugo, passou anos na estante sem que eu tivesse interesse em descobri-lo. Até que um dia, no início do ano, com muita necessidade de me ligar ao mar, o lugar de onde venho na essência e em espírito - acho que já disse isso outras milhares de vezes - o trouxe para perto de mim. Mergulhei nele e ficamos juntos de fevereiro a agosto.



"Trabalhadores" é a história de um homem disposto a aplicar um grande golpe, de um homem de honra e posses que vai à falência pela vingança de outro e de um terceiro ser, insignificante aos olhos dos outros.



Todos eles estão ligados pelo mar e seus mistérios. O primeiro o desafia levando até um lugar ermo, perigoso e do qual ninguém sai vivo o navio do segundo para provocar nele a maior decepção de sua vida, talvez o fim dela; este, por sua vez, idolatra o mar porque o dominou levando a modernidade à Ilha de Guernesey em forma de um navio; o terceiro simplesmente é parte do mar, conhecedor de cada movimento seu.

Gilliat, meu grande companheiro nesses meses, é um homem apaixonado, dedicado, observador, abnegado, capaz de antecipar todos os movimentos do tempo, das marés, chegar a lugares onde nenhum outro vai, sobreviver nas condições mais inóspitas... tem talento para a forja, para a engenharia, para a biologia e faz um trabalho sobre-humano sem contar com a ajuda de ninguém... pelo contrário, tudo a sua volta foi teste e sabotagem...


Mas, motivado pela promessa de casamento de sua amada àquele que salvasse o navio de seu tio, passa meses trabalhando no mar, inexpugnável, para salvar a Durante e ter Déruchette...



É sua chance de deixar de ser nada, um ser que ninguém enxerga, um ser cheio de destreza, talento e alma visionária reconhecidos apenas pelo mar, deixar de ser solitário e ignorado... para ser o grande herói!

É uma grande aventura, uma odisseia, uma resistência até as últimas forças, muitos reveses quando tudo parece perdido...

Mas, no fim, ah, no fim, só nos resta o mar!!

"Tudo o que se passa neste mundo parece um desconcerto. Creio que Deus já não entra nisso. Deus está ausente. Devia-se lavrar um decreto para obrigá-lo a residir aqui. Anda lá na sua casa de campo e não se importa conosco. E tudo vai torto e mal encaminhado. É evidente, meu bom senhor, que Deus já não está no governo, está em férias, e é o vigário, algum anjo seminarista, algum beócio com asas de pardal. quem dirige os negócios."


"O vento é cheio desse mistério. Do mesmo modo o mar. Também ele é compli

cado; debaixo das suas vagas de águas, que se veem, há outras vagas de forças que não se veem. O mar é aspirado pelo turbilhão, com um sifão; uma tempestade é um corpo de bomba; o raio vem da água como do ar; nos navios sentem-se abalos surdos, depois um cheiro de enxofre sai do poço das correntes. O oceano ferve. O diabo pôs o mar na sua caldeira."


"Tinha Gilliatt, como todos os bons marinheiros, movimento de previsão. Nunca perdia força. Vinham daí os prodígios de vigor que ele executava com músculos ordinários; tinha as forças comuns, mas uma grande coragem. Ao lado da força, que é física, tinha a energia, que é moral."

"Era um começo de hostilidades. Gilliatt compreendeu isso. É difícil, quando se vive em familiaridade com o mar, não ver no vento e nas rochas criaturas e personagens."


"Eis o que é a decadência. Cumpre-se morrer todos os dias. Cair não é nada, é a fornalha. Decair é o fogo lento."

domingo, 24 de agosto de 2014

Amores tóxicos em "Menina Má"

As histórias de amor tóxico do livro "Travessuras de Menina Má" (Vargas Llosa), um presente que ganhei da amiga Luciana Mendonça em 2009, vivem ecoando dentro de mim....

Seus personagens, Ricardo e a Menina Má, são daqueles que me acompanham onde quer que eu vá... Vai a vida, volta a vida, e lá estão eles me lembrando da minha realidade, me lembrando da minha humanidade... 



A vida deles também vai e volta e lá está um diante do outro... Na infância em Miraflores, no Peru... na juventude em Paris e em Londres, onde são testemunhas das mudanças dos padrões culturais mundiais... Na moderna Tóquio, já na vida adulta... na Espanha já mais amadurecidos...Em todos estes lugares, eles se encontram, se completam e se diminuem também...

A Menina Má é uma mulher sem referências, sem história, sem ponto de equilíbrio, que se prende a este homem não por amá-lo, mas porque precisa dele pra retomar o rumo da vida louca que escolheu ou escolheram pra ela... não manifesta sentimentos, não consegue se prender emocionalmente a ninguém, mas acaba muitas vezes subjugada pela vida e pelos homens...

Ricardo se maltrata, se destrói, se magoa por se saber usado e manipulado pela menina má, mas não consegue se desprender dela, qualquer que seja a merda que ela faça, tantas vezes ela o abandone, tantas vezes ela o destrate... Fica lá acreditando que ela o ama, mesmo sem demostrar, mesmo sem dar nada em troca, mesmo não estando ali...

A gente sempre se pergunta porque, e no final das contas a resposta é a mesma... a dignidade que se perdeu e não se encontra mais....

terça-feira, 6 de maio de 2014

Vinte anos sem Mario Quintana

No dia 05 de maio de 1994, há exatos 20 anos, Mario Quintana - que também tinha um "de Miranda" no meio do nome - partiu e deixou este mundinho com ainda menos poesia. 
Gaúcho de Alegrete, começou sua carreira como jornalista. Depois, passou a publicar seus primeiros textos literários em jornais do Rio Grande do Sul e, como ainda criança aprendeu francês em casa, traduzia telegramas que chegavam à cidade.  

A atividade, no entanto, contrariava o pai, que era farmacêutico e queria um filho doutor, e por isso entenda-se médico, engenheiro ou advogado. 
Como não se há de negar as habilidades e dons, Quintana seguiu no caminho da escrita e se tornou um dos maiores poeta
s do século 20 e príncipe dos poetas brasileiros, segundo a Academia Nilopolitana de Letras. 
Abaixo, poeminhas de Quintana para lembrarmos dele com carinho.

AUTORRETRATO
No retrato que me faço
- traço a traço -
às vezes me pinto nuvem,
às vezes me pinto árvore...
às vezes me pinto coisas
de que nem há mais lembrança...
ou coisas que não existem
mas que um dia existirão...
e, desta lida, em que busco
- pouco a pouco -
minha eterna semelhança,
no final, que restará?
Um desenho de criança...
Corrigido por um louco!


DA DISCRIÇÃO
Não te abras com teu amigo
Que ele um outro amigo tem.
E o amigo de teu amigo
Possui amigos também...

HOJE É OUTRO DIA
Quando abro cada manhã a janela do meu quarto
É como se abrisse o mesmo livro
Numa página nova

E O POETA FALAR NUM GATO (TODOS OS POEMAS SÃO DE AMOR)
Se o poeta falar num gato, numa flor,
num vento que anda por descampados e desvios
e nunca chegou à cidade…
se falar numa esquina mal e mal iluminada…
numa antiga sacada… num jogo de dominó…
se falar naqueles obedientes soldadinhos de chumbo que morriam de verdade…
se falar na mão decepada no meio de uma escada
de caracol…
Se não falar em nada
e disser simplesmente tralalá… Que importa?
Todos os poemas são de amor!

quinta-feira, 17 de abril de 2014

Meu amado Gabo!



Neste dia triste, meu querido Gabo, é impossível não falar de você. Apesar de todos os nossos encontros, lembro do primeiro contato que tivemos. 

Meus pais já moravam na praia, eu tinha 15 anos, e estava na casa da vó Ester. Tio Milton chegou com um exemplar de "Amor nos Tempos do Cólera" para nos visitar. Nunca havia ouvido falar de você. Eu peguei o livro e me sentei na poltrona ao lado da estante. A tevê estava ligada e eu só queria saber da morte de Juvenal Urbino.


A visita partiu no dia seguinte, o livro foi junt

o, mas eu fui lá na biblioteca da escola te encontrar. Foi um ano de leituras muito boas, de grandes descobertas. Erico Veríssimo e Rachel de Queiroz foram bons companheiros com "Incidente em Antares" e "Memorial de Maria Moura". Mas nenhum deles foi maior que você. 

Florentino e Firmina foram me conquistando e se tornaram os protagonistas da melhor história de amor de todas que eu conheço. Esse vai e vem do caralho, essa dedicação sem fim me fizeram voltar a eles em outra fase da minha vida, na faculdade, e estou certa de que estarão comigo em breve e de novo e de novo até o fim da minha vida. Porque eles são amigos dos quais a gente nãos e afasta, mesmo com a longa distância.


Uma pena a pessoa que emprestou meu livro não ter devolvido. Não importa. Eu vou encontrá-lo novamente.



Sem você, Gabo, minha entrada na faculdade teria uma outra história. Possivelmente, meus amigos se lembrariam de mim de outra forma. Mas foi você que estreitou os nossos laços - que nunca mais foram desfeitos e eu te devo mais uma - com as suas costelas da morte. Foram longas horas juntos, muitas discussões, noites sem dormir até entender que diabos era a outra costela da morte. 

Também foi você que me fez corrigir a professora Malu, que te chamou de escritor argentino, boliviano, não sei, em frente a toda a sala. Só pra deixar minha marca, você sabe como é. Foram duas no mesmo dia. Também tive que pedir a ela para não nos interromper na apresentação do trabalho, senão não conseguiríamos terminar o seminário. Que impertinente! 


Em Araraquara, ganhei três dos
seus livros. Um deles, "Memórias de Minhas Putas Tristes", foi a própria Record que me enviou. Acho que foi o melhor livro cortesia de editora que recebi. Fiz planos de ler em espanhol, mas desisti na época. Li e reli. E ainda volto a ele para buscar meus trechos preferidos. Está lá no fim de uma das fileiras das estantes me esperando para novas reverências a você.

Faz apenas alguns dias, antes de saber do câncer, que pude falar sobre você com conterrâneos. Pois é, isso mesmo. Na última quimioterapia da Mel - olha a ironia da vida! - fomos atendidos por dois médicos colombianos que ficaram orgulhosos quando eu disse que tenho vontade de conhecer a Colômbia porque meu escritor preferido é você.


Queriam saber tudo. Como te conheci. Que livros li. Qual o preferido. E disseram: gostamos muito dele na Colômbia!! Eu sorri e disse: Gabo faz parte da minha vida.
Mais que isso. Gabo viverá para sempre em mim porque constrói a pessoa que sou há 20 anos.

Obrigada, Gabo, por nos unir no amor, na literatura, nas discussões, nas descobertas, na vida, aqui e além!!
"Então os piores anos da minha vida passaram. Contei os eternos minutos um a um, enquanto esperava pela sua volta. Mas não me importo. Ficarei de vigília por toda a eternidade. Ficarei de vigília até morrer, se for preciso".

"Convenceu-a de que a gente vem ao mundo com as trepadas contadas, e as que não se usam por qualquer motivo, próprio ou alheio, voluntário ou forçado, se perdem para sempre."



"Não sou nada. Não me curarei nunca na vida. Fui atingido pelo raio do amor e me queimei além de qualquer cura. Ela é uma farpa que não pode ser retirada. Ela é parte de mim, onde quer que eu vá. Ela está em todas as partes".




"Depois de 54 anos, sete meses, onze dias e noites, meu coração finalmente se realizou. E eu descobri, para a minha alegria, que é a vida e não a morte, que não tem limites".

"- Até quando o senhor acha que podemos ficar nesse ir e vir do caralho?
 - Por toda a vida!"