domingo, 22 de novembro de 2015

Comer fora de casa é um transtorno!

Quando se tem restrições alimentares por necessidade, comer fora de casa se torna um transtorno. Isso a gente descobre bem rápido também. Acabou o prazer, a expectativa, a vontade de escolher um lugar novo, legal e com pratos deliciosos para comer. Acabou, simplesmente!

Primeiro porque ninguém sabe o que é glúten, mesmo trabalhando no meio alimentício. Segundo: 
é muito difícil encontrar um lugar com as mínimas opçõesTerceiro: ainda assim, é preciso rezar e torcer muito para não haver contaminação cruzada. Lugar "limpo" de traço só achei um em Araraquara até agora. Quarto: Você fica feito um retardado olhando tudo, estático e pensando "tem ou não tem??", enquanto as outras pessoas te olham com outras interrogações.

Bem por isso, penso um milhão de vezes agora antes de comer fora. Mas tem dias que não dá. Não tem outro jeito. E, por isso, em dois meses vivendo sob uma nova dieta, eu já ouvi as explicações mais bizarras para tem ou não tem glúten.



Na sorveteria, o dono me disse feliz que era quase tudo zero glúten. Saltei de alegria. Mas só até ele me oferecer sorvete de ovomaltine. Das duas uma, moço: ou não tem ovomaltine ou tem glúten.

A mesma coisa aconteceu com brigadeiros durante o festival de Food Trucks. A vendedora garantiu que o produto dela com ovomaltine não tinha glúten. Eu discuti educadamente e não comprei. No outro dia, me pediram desculpas e assumiram que tinha. Claaaaro que tinha!! Mas, e se eu tivesse comido??

Outra situação é que as pessoas confundem glúten com qualquer coisa, menos com farinha de trigo. Já me disseram "ah, tem glúten" porque tinha milho, porque tinha leite, porque não era light. Já me disseram que tinha no pudim, depois não tinha mais. Já me disseram que tinha na tapioca, mas não voltaram para se explicar.



E, mesmo sendo necessário, é muito desagradável ficar perguntando se tem farinha, se tem molho shoyo, se tem tempero pronto, sazón, a pqtp......... Porque a maioria das pessoas acha que é frescura mesmo. Não é. Quem me dera ser.



De forma geral, minha alimentação hoje se restringe a frutas, verduras, carnes, coisas com arroz e coisas com mandioca. São a base de tudo. Fora de casa, o cardápio é isso, quando tem essa opção. E rezar nem sempre ajuda. No mesmo Food Truck fiquei feliz quando a atendente me perguntou se eu era celíaca quando eu questionei se a geleia de pimenta tinha glúten. Mas, meia hora depois de comer os quadradinhos de tapioca, lá estava eu passando mal. Muito provavelmente eles fritaram os quadradinhos no mesmo óleo de outros produtos com farinha de trigo.

Sendo assim, comer fora de casa só é seguro se for nas coxinhas douradas de Bueno de Andrada. Sim. Um distrito de Araraquara. Uma lanchonete que era uma venda 20 anos atrás e que teve que se reinventar para sobreviver quando o asfalto trouxe as pessoas para fazer compras na cidade.


É nesse lugar que você pode comer sem medo de se contaminar com glúten, com soja, com ovo, com peixe ou leite. Porque lá, na lanchonete da beira da estrada, as pessoas estão olhando lá, mas bem lá na frente. Seu Freitas e sua esposa Sonia têm entre seus funcionários uma engenheira de alimentos. Fizeram uma cozinha separada para fazer as coxinhas sem alergênicos. Têm uma equipe preparada para evitar contágio. Lá na frente, bem lá na frente eles estão.

Daí, volto ao começo. Glúten e outros alergênicos não são coisas de outro mundo. Há muita gente com restrição alimentar. E lá em Bueno as pessoas sabem disso. Lá onde mal pega sinal de celular, tá. Mas existe algo que se chama conhecimento, informação, e outra que se chama tino comercial, empreendedorismo. É isso que faz a diferença entre "Glúten?????" e "temos duas opções de produtos sem glúten para celíacos"!

Pena que não dá pra comer coxinha todo dia, né? Porque é preciso aproveitar a vibe do glúten e os mais de dez quilos a menos!!



terça-feira, 10 de novembro de 2015

Uma vida de arroz e mandioca...



Quando me dei conta de quantas coisas no mundo têm glúten em sua composição, minha sensação mais forte era de ser uma completa idiota. Tive tanta raiva do mundo que eu poderia estapear várias vezes todos esses estúpidos que vivem por aí fazendo dietas restritivas sem necessidade.

Claro, cada um come o que quer, quando quer e isso não é problema meu. Cada um com seus problemas. A questão não é essa, embora tenha lido em várias publicações especialistas dizendo que quem não tem restrição a glúten não deveria tirá-lo de sua dieta.

Ao me deparar com os alimentos que nunca mais poderei comer, 
a menos que queira passar mal novamente, até o fim da minha vida - e isso quer dizer mais uns 30, 40 anos, com sorte, porque não pretendo viver mais que isso - me lembrei de uma conversa que tive na academia com uma pessoa que corria na esteira ao lado da minha. Na época, eu havia emagrecido entre 12 e 15 quilos, mas a colega me sugeriu tirar os alimentos com glúten da alimentação para perder mais peso. E em seguida me relatou que não comia mais pães e massas. 


Hoje, eu gostaria muito de encontrá-la novamente para perguntar se ela realmente tirou todo o glúten da dieta. Porque deixar de comer pão, pizza, bolo, biscoito, macarrão por causa do glúten, maravilha. Mas será que ela e as outras pessoas que dizem fazer dieta restritiva tiraram mesmo TODO o glúten de sua alimentação?

Será que elas olharam os rótulos dos cereais, dos iogurtes, dos molhos, do risoto pronto, do ovomaltine, das cervejas, da aveia, da barra de cereal, dos chocolates para conferir se tinha ou não o famigerado glúten?

Será que, assim como eu, essas pessoas deixaram de tomar cerveja ou uísque porque neles há traço de glúten? Será que nunca mais comeram queijos, embutidos, almôndegas, lanches e sorvetes porque neles há glúten?
Não preciso perguntar pra saber. E dou dois dedos meus se alguém com dieta restritiva se privar 100% de tudo o que tem glúten como eu e os demais celíacos temos que fazer. Dois dois dedos meus se essa gente fizer como as mães das crianças APLV, que ficam enviando emails para as indústrias alimentícias para pedir laudos e pareceres técnicos sobre a presença de lactose, proteína do leite, soja, ovo, peixe e amendoim nos produtos que querem comer, mas que não podem para que seus filhos não adoeçam. Sinceramente, nem sei o que, por fim, essas mães comem...

Dois dedos por alguém não celíaco que deixa de comer um doce com glúten ou fica 
numa festinha sem comer nada porque tudo o que tem é com glúten.


Dia desses, a EPTV São Carlos fez uma matéria com pessoas que fazem dieta restritiva para glúten e um dos entrevistados disse sorrindo - é a realidade dando socos na nossa cara - que não come glúten, mas todo dia come pão francês. Amigo, vai à merda!!

Ficar por aí pagando de "sou o bonito que não come glúten" é uma graça na academia, pega superbem com o instrutor, com os coleguinhas,  mas não tem efeito nenhum pra quem nunca mais vai poder ingerir qualquer uma dessas coisas listadas acima sem ter dermatite, diarreia, cólicas intestinais, dores de estômago, fraqueza, sintomas de depressão, dor de cabeça, cansaço e perda de peso, exatamente meia hora depois de se alimentar. É, a gente não precisa de muito tempo pra saber que algo está errado.

Como disse minha amiga Erika Tonelli, que vem travando essa batalha porque o pequeno Matteo é APLV, nunca meu quadril será tão estreito! Por enquanto, ainda não cheguei lá. Mas, mesmo que estivesse lá, não faria com que eu me sentisse menos idiota ao olhar o rótulo de todos os chocolates do mercado na esperança de que um deles tivesse a inscrição "Não contém glúten".

Só pra constar, se você quiser alegrar meu dia, Kinder Ovo, Kinder Chocolate e brigadeiros feitos com Chocolate do Padre em Pó e algumas marcas de achocolatado (as duas mais conhecidas não podem ser usadas) não contêm glúten. E têm me salvado nas crises de TPM. 



Aliás, esse é um movimento aconchegante. Depois desse advento, todas as pessoas do seu convívio passam a olhar os rótulos para ver se tem ou não tem glúten. E toda vez que encontrarem uma placa de "Sorvete sem glúten" ou "Chocolate sem glúten" imediatamente seu nome surgirá.
Mas sempre vai ter alguém que acha que "um pouco pode". Isso acontece mesmo entre aqueles que já estão cansados de te ouvir falar de glúten. Não, não pode. Não pode um pouco, não pode fritar no mesmo óleo. Não pode assar no mesmo forno. Não pode usar a mesma colher. Não pode colocar na mesma vasilha. Não pode usar a mesma buchinha para lavar. Porque os traços provocam a mesma reação de um pedaço de pizza.

Ou seja, para mim, que sempre disse que a comida era o meu vício, o glúten é a minha droga. E vale a mesma máxima da reabilitação que diz "Um é muito, mil é pouco". Isso quer dizer que devemos evitar o primeiro pedaço porque, uma vez contaminados, tanto faz se comemos um pedaço ou morremos de tanto comer. A abstinência já foi embora!!

Vamos lá, então, viver uma vida de arroz e mandioca, porque é tudo o que nos resta!








domingo, 8 de novembro de 2015

Cia. Raça, o tango e uma explosão de sentimentos!



Ser jornalista e cobrir a editoria de cultura por mais de cinco anos me deram o privilégio de caminhar junto com as artes. Aqui, descobri a vida que salta do palco do teatro e da dança, manifestações com as quais havia dito pouco contato até chegar à faculdade. Venho de um lugar que até hoje carece desse tipo de conhecimento.

Por motivos pessoais, que me fizeram me recolher, e também pela baixa na agenda cultural da cidade, há meses estava sentindo falta de me envolver em histórias que não são minhas. E, 
ao ver uma reportagem sobre a vinda da Cia. Raça com "Tango sob dois olhares" para Araraquara soube que esse era o melhor momento para me sentar novamente à frente do palco do Sesi, um lugar pelo qual tenho tanto carinho e onde tive experiências pessoais intensas e íntimas nesses mais de 10 anos de Araraquara.

Ontem, me deparei novamente com um momento muito especial naquele palco. Provavelmente, uma das coisas mais lindas que vi nessa vida.

Não tenho palavras para dimensionar com justiça minhas impressões e a explosão de sentimentos que houve dentro de mim - e posso apostar que em toda a plateia, porque vi muita gente, homens e mulheres, saindo emocionados do teatro.

A paixão, a tristeza, a força dos tangos de Piazzolla, trilha e inspiração da coreografia de Roseli Rodrigues, se juntaram a construções poéticas - as mais belas com três bailarinos, homens, mulheres, homens e mulheres - de muita intensidade, histórias de amor, traição, busca, sedução, vingança, dor, tristeza, volúpia.

A sequência final nos faz pensar que há no mundo coisas bonitas e coisas magníficas, e que até então só tínhamos conhecidos as primeiras. Tinha vontade de gritar....

A apresentação foi aplaudida em cena aberta pelo menos três vezes. Minha vontade era abraçar cada um dos bailarinos (os quais, reforço palavras anteriores, invejo porque nenhum corpo pode ser mais belo, doce e leve que o deles, nem mais resistente... sempre tento mensurar o esforço que fazem no palco, mas me parece infinito) em retribuição à felicidade que sentia ao fim do espetáculo.



Como tenho o privilégio de morar perto do Sesi, vou e volto a pé, em meu caminhar pude rever aquelas cenas mentalmente, sorrindo sozinha pela rua, embevecida no branco e preto, em tanta beleza.

No caminho, meus pensamentos foram invadidos duas vezes. Um casal cantando "Evidências" em um karaokê, que me fizeram lembrar do meu querido Lu Andrey e seu "Nuvem de Lágrimas", em cartaz em São Paulo. E um maluco de moto que quase me atropelou, gritando é campeão. Nesse momento, fiquei ainda mais feliz por ter superado a reclusão e ido me energizar com a arte alheia, ao invés de ficar entre lamentos e futebol ruim em casa.

Hoje, minha oração do dia foi dedicada a esse espetáculo de amor e a todas as pessoas envolvidas com ele!

segunda-feira, 2 de novembro de 2015

Doença celíoque??




A primeira vez que ouvi falar de doença celíaca foi na faculdade. A cena marcante ainda hoje me faz rir, apesar da representação que o problema tem hoje em minha vida.

Era uma noite de gravação de programa de rádio, eu e Silvio apresentávamos quando ele dá um grita no estúdio: "Doença celí o que? Quem colocou isso no texto?". Por meia hora, a gravação parou porque fez-se o furacão.

Cris colocou aqui no texto. Ela era estagiária da Rádio Unesp e fazia boletins informativos das pesquisas científicas de todas as Unesps. Aquela, coincidentemente, era de uma professora de Botucatu, mãe de amigos de amigos meus. Quem diria que a professora Cereda ia fazer mais que emprestar a casa para jogarmos computador nas tardes quentes.

Passados tantos anos desde o Ensino Médio em Botucatu, outras tantos desde a faculdade em Bauru e cá estou eu em Araraquara diante da doença celíaca.

Há alguns meses, uma série de adventos físicos têm acometido meu corpo e minha mente. Em nenhum momento, juntei tudo. Até porque sei tudo de doenças, né. Também não me preocupei muito em cuidar nem de uma coisa, nem de outra. Não tinha disposição pra nada.

Mas, então, em junho, depois de uma viagem para Foz do Iguaçu, percebi que estava perdendo peso sem esforço. Pra muita gente, a notícia poderia ser alvissareira. Pra mim, foi um susto. Mais de 20 anos brigando com o próprio corpo, engorda, emagrece, e um guerra pra perder peso e manter o corpo na mínima ordem possível.

Depois de mais algumas semanas, o pior aconteceu: perdi tanto peso que perdi uma calça. Nesse momento, fiquei com medo. Um médico me disse, certa vez, que isso só poderia acontecer com alguém se a pessoa estivesse com câncer, aids ou tuberculose. O diagnóstico, felizmente, não foi tão devastador. Mas me desconcertou. "Deu positivo para doença celíaca. A partir de hoje, você não pode mais comer glúten. Vá no mercado e olhe tudo, ok?"


Tá bom, doutora, olho tudo. Mas não ia olhar. Afinal, é fácil. Não tem glúten onde tem farinha de trigo. E tem trigo em pães, massas. Ponto. Foi a primeira vez que chorei comprando comida. Não, amigo, o mundo é feito de glúten. Além do pão francês e todos os outros tipos de pães que eu amo e encontro no mercado e na padaria, estão o macarrão, a massa de lasanha, os lanches, as pizzas, os iogurtes, queijos, carnes embutidas, molhos prontos, sopas prontas, risotos prontos, miojo, alguns tipos de sorvete, achocolatado, leite condensado, bolos, cerveja, uísque.... A lista parecia não terminar nunca. Na verdade, acho que ainda não descobri tudo o que não posso comer...
Pra você que tem dúvidas sobre o que é a doença celíaca, uma historinha rápida. É uma doença autoimune e, como tal, ela se defende de um ataque que não existe.

Nesse caso, o vilão é o glúten. Então o corpo pega o glúten (uma proteína presente no trigo) e tudo o que vem com ele e joga fora. Daí, sofremos com perda de peso porque nenhum nutriente é absorvido, queda de cabelo, fraqueza, depressão, desânimo decorrentes da falta de vitaminas etc, dores abdominais terríveis, diarreia (é a tal da síndrome do intestino irritado), osteoporose, dermatite herpetiforme (e essa coceira filha duma puta) e, se eu não produzisse ferro em excesso, teria anemia. Não é intolerância, não é alergia. Não tem cura. Não tem outra saída a não ser parar de ingerir glúten.
Desde o dia do diagnóstico, meu mundo agora se resume a farinha de mandioca e farinha de arroz. Dentro de mim, houve muita revolta, como sempre digo, me senti uma idiota por não poder comer mais as coisas que eu mais gosto, mas agora, passados quase dois meses, entendo o que a vida, o mundo, Deus, eu mesma fizemos por mim. Eu não parei, então meu corpo fez essa gentileza. Além disso, pra quem tinha um diagnóstico de pré-lúpus, a vida tá bem fácil. Vou comer tapioca todo dia e jamais vou reclamar.