Ariano Suassuna entrou na minha vida quando ainda estava na faculdade. Durante uma viagem de São Paulo a Bauru, levei "O Auto da Compadecida". A viagem era de madrugada, todos os outros passageiros dormiam e eu me contorcia para controlar o riso.
Li o livro praticamente todo durante os 330 km entre uma cidade e outra, mas tive que reler mais duas vezes porque não me continha de alegria com suas histórias.
Era uma leitura divertida, adorável, sarcástica, linda, tudo ao mesmo tempo. Como o doce autor, que tive o prazer de conhecer anos atrás, em São Carlos.
Nessa profissão que me ensinou que devemos separar obra de autor e que podemos amar a primeira, mesmo sabendo que o segundo é um ser humano passível de erros como eu e você, Ariano se mostrou a melhor das exceções.
Aquele senhor de 80 e tantos anos ainda tão lúcido nos fez morrer de amores, sorrir, chorar e lamentar ao pensar que o maior escritor brasileiro vivo logo não estaria entre nós, por forças maiores.
Como qualquer grande momento de nossas vidas, aquela hora que passei no Teatro de São Carlos me fizeram flutuar de emoção - mesmo porque uma das poucas vezes em que me deparei com um dos meus escritores favoritos.
Mas como nosso cérebro é falho, as lembranças se vão.
Para nos curar disso, ficam os documentos visuais. Dois vídeos que fizemos de sua visita e que me fizeram feliz mais uma vez ao encontrá-los. Quem, sabendo que a vida está por chegar ao fim a qualquer momento, poderia dizer "Sou um homem de esperança" e crer querer em um mundo melhor?!! Ariano, só ele!!
Compartilho os vídeos para quem não pôde partilhar pessoalmente desse momento especial. As fotos são de Daniel Barreto.