sexta-feira, 8 de abril de 2016

Chico, o Shiczu: você tem amor para dar a este bebê?




Há um ano, por esses dias, uma postagem no facebook mostrava um cachorro em evidentes péssimas condições de saúde vivendo no lixão de Araraquara. A pessoa que o fotografou comunicava que iria levá-lo para castração. E, naquele momento, começava a história que conhecemos de Chico, o Shiczu, meu pequeno milagre.

A possibilidade de meu filho mais novo resistir a uma cirurgia de castração naquele dia era nenhuma. Se sua outra mãe - assim eu a considero - não visse aquele post e agisse rápido, não estaríamos aqui contando essa epopeia.


Lá foi ela, desassombrada, doida, delirante até o lixão pegar aquele pacotinho de pelos, carrapatos e ossos. Soube que uma família havia ido embora e ele havia ficado lá. Não sabemos por quanto tempo Chico viveu no local, mas o estrago foi grande.

Um banho e uma tosa longos colocaram à mostra centenas de parasitas, duas grandes feridas na pata traseira direita, provavelmente mordida de algum outro cachorro na disputa por comida, todos os seus ossinhos frágeis, as patinhas magras, um dentinho torto e olhar de sofrimento.

Chico foi diagnosticado com anemia profunda, doença do carrapato, algum problema hepático, subnutrição e desidratação. Seriam necessários muitos cuidados para que ele vivesse.

Naquele dia, Seu Bigode - seu nome provisório - foi adotado e devolvido em questão de minutos. Resgatado novamente, reuniu outra vez aquele mutirão de mães para ser salvo. Foi para uma casa onde a cachorrinha do lar teve de ficar trancada em um dos quartos porque não aceita outro animal. Alguém cuidou de pagar seus medicamentos - foram dois meses de três doses diárias. Outra pessoa conseguiu descontos e doações para sua ração e sua pastinha especial - comeu uma lata por dia durante 60 dias.

Por
dois meses, alguém o pesou a cada três dias para se certificar de que estava ganhando peso. Alguém doou outro banho e outra tosa quando os pelos mudaram de cor e conseguiram força para crescer. Alguém o levou ao médico toda semana para refazer exames. Alguém deu descontos para esses exames serem feitos. Alguém pagou por sua castração quando sua saúde já estava em ordem. Alguém deu nos horários exatos seus remédios e sua comida especial, que todos os outros cachorros da casa queriam roubar. 


Alguém o colocou no colo para esquentar seu corpinho e fazer carinho. Outra pessoa doou o travesseiro do filho para que ele se abrigasse nos primeiros dias. Alguém desativou um dos banheiros da casa para que ele ficasse seguro durante a adaptação na casa temporária.

Muitas pessoas o amaram e, mesmo torcendo e rezando por sua recuperação, não o reconheceram depois de 2 meses, tamanha a diferença de seu corpinho, já gordinho e resistente.


No dia em que peguei Chico no colo pela primeira vez, chorei de medo. Não achei que ele resistiria e não queria que ele partisse nos meus braços. Todos os dias, por pelo menos um mês, eu me sentei com ele no chão com ele nas minhas pernas e juntos rezamos para São Francisco de Assis para que ele não me deixasse, para que ele tivesse a chance de viver conosco, brincar e correr pelo quintal com os outros cachorros.

Nos dois primeiros dias em minha casa, Chico não teve forças para sair do banheiro. Comia ali mesmo e eu o carregava para o quintal, onde tentava colocar algo para fora do seu corpo. Mas ainda não havia o que descartar.

Por alguns dias, Chico só tinha medo dos outros cachorros. Grudava em mim ou, na cozinha, deitava debaixo da minha cadeira e ali ficava.

Hoje faz um ano que meu filho mais novo recebeu de pessoas muito especiais o presente de continuar vivo. E eu o presente de poder cuidar dele e ver o milagre do amor diante dos meus olhos.

Pensando na proximidade desta data, dias atrás, fiz uma postagem com fotos recentes de Chico, lindo e feliz, o oferecendo para adoção. Em menos de uma hora, cerca de 30 pessoas enlouquecidas se apresentaram para levá-lo para a casa. "Onde você mora?". "Amanhã eu já pego ele". "Estou apaixonada, ele é lindo".


Dias depois, fiz a mesma postagem, oferecendo aquele menino de um ano atrás, caquético e doente, para adoção ou lar temporário. Duas pessoas perceberam a semelhança entre um e outro, mas não ofereceram mais adoção. Uma outra - e ela apenas - se dispôs a adotá-lo com o mesmo amor de qualquer outro animal.

E este post é para dizer a essas 30 pessoas que desistiram de sua adoção que cachorrinhos fofos não nascem prontos. Não são bichinhos de pelúcia que estão sempre lindos. Eles ficam lindos quando amados, bem cuidados, alimentados, vacinados... Chico era um trapinho de gente, perto da morte. Com amor, muito amor e dedicação, hoje é um reizinho. Chico, o Shiczu, é meu filho, não dou e só empresto para as outras mães. 

Este post é para agradecer a todas as mães que Chico tem, que salvaram sua vida, algumas sem nem conhecê-lo pessoalmente e outras que choram de felicidade toda vez que o veem...

Este post é para celebrar a vida do meu chatinho, esse louco que corre pelo quintal como se não houvesse obstáculos, que morde a cara da Hanna como se ela fosse de borracha, um dentucinho que dá beijos mordidos e abraços, que come pombos (deusas!!), que briga com todo mundo por nada, que dorme no meu travesseiro quando está manhoso, que dança rosnando, que gosta de Pearl Jam...


É para agradecer a São Francisco por ter ouvido nossas súplicas. E desejar ao Chicão, o meu super-herói, muitos anos atormentando minha vida!!