Eu tinha 16 anos quando vivi o primeiro grande momento da minha vida. Daqueles que a memória não apaga, que uma simples lembrança dispara um história inteira, que faz o coração vibrar mesmo depois de passados 15, 20 anos.
Eu, uma adolescente moradora de uma pacata cidade do
Interior de São Paulo de dez mil habitantes e ansiosa por voar longe, onde
ninguém me alcançasse, decidi me aventurar sozinha até São Paulo para assistir
a um show de rock.
Se isso aconteceu na minha vida, devo a uma única pessoa. Mateus
Carnevalli Terni. Meu bem mais que amigo, meu irmão de afinidade, meu irmão de
coração. Foi ele quem, dois anos antes, me apresentou a Joe Satriani. E ele que
não parou de insistir para que eu fosse ao show desde o primeiro momento em que
soube das três apresentações em São Paulo, e me recebeu em sua casa numa
quarta-feira à noite para dividirmos esta aventura (e ainda prendeu minha mão
na porta do carro do amigo, Tiago Mantovani, eu acho, na carona de volta para a
casa).
De todas as histórias que Satra conta deslizando os dedos
pelas cordas da guitarra – e às vezes a boca -, a mais esperada era “Crying”. Não
consigo imaginar que alguém ali não chorou. Eu chorei, meus amigos choraram. Porque
música é catarse e eu tinha muitos sentimentos saltando em meu peito. Pra mim,
tão pequena, mas com tantos sonhos, era uma fagulha da vida me dizendo que sim,
eu podia ir além.
Hoje, ouvindo “Crying” novamente, olho para traz e vejo que
nem fui tão longe quanto sonhava e nem sou quem imaginava ser. E isso é parte
da vida que alguém com 16 anos ainda não sabe.
Mas também posso dizer que não desviei tanto da rota, não. Com
essa maldita coragem que a vida me deu, que não me deixa ter medo de enfrentar
nada, eu meti a cara e fui, muitas vezes achando que ia aguentar as consequências
de tudo e qualquer coisa.
Eu fui fazer faculdade 500 quilômetros distante de casa, sem
que eu conhecesse nada nem ninguém, e ainda brigada com meu pai que me preferia
ter por perto. Eu larguei tudo para investir numa cobertura de férias de 15
dias e conseguir um emprego e uma carreira na profissão que escolhi, a
contragosto de absolutamente TODOS da minha família. Eu pedi demissão depois de
dez anos na mesma empresa porque precisava descobrir se era boa em outro lugar.
Eu terminei um relacionamento de nove anos, com promessas de amor eterno e uma família
“perfeita” também contrariando todos os prognósticos (ABRE PARÊNTESE: por
muitos motivos eu agradeço a deus por isso, mas principalmente pelo fato de
que, se não fosse isso, hoje eu seria avó de duas crianças mesmo sem ter tido
filhos. Olha bem pra minha cara de quem ainda não chegou aos 30 se eu posso com
isso. Não. Definitivamente. FECHA PARÊNTESE). Eu enfrentei a loucura de um
novo, complicado e repentino relacionamento acreditando que amava demais e
podia mudar o outro. Eu fiz muito, e fiz muita merda também. Graças a essa
maldita coragem que me faz acordar todo dia pensando: eu dou conta da vida,
mesmo diante de tantas contrariedades e placas luminosas dizendo que
euvoumedarmaldenovoimpreterivelmente.
Mas ninguém dá conta de tudo sempre. Hoje eu não estou dando
conta de tudo. E ouvir Satriani me faz chorar mais uma vez. Me fez lembrar do
meu pai dizendo que bom mesmo é ser criança. É, bom mesmo é ser criança, mas
essa também é outra verdade que a gente só descobre com o tempo.
E esse post começou porque ao ouvir “Crying” eu também chorei
porque é muito dolorido quando a vida tem um ritmo diferente daquele que a
gente deseja, quando as pessoas não conseguem se encontrar porque cada uma tem
seu momento de descobrir o outro, porque muitas vezes essa descoberta não passa
de um esboço e nunca acontece, por mais que uma das partes se esforce para
alcançar uma certa sintonia. Há coisas que a gente consegue equilibrar, outras não.
Mas refletindo sobre tudo isso que eu escrevi vou encerrar
este post dizendo que, ouvindo “Crying”, me dei conta de que eu tive – na real,
eu tenho porque eles todos fazem parte da minha vida ainda, de um jeito ou de
outro –, os melhores amigos que a vida podia me dar. Porque se eu não sou tão
inteligente, tão talentosa, tão preparada quanto eles eram e são, o tive as
mesmas oportunidades que eles na vida, mas eles me serviram de espelho para ter
muitos grandes momentos nessa passagem e para ser melhor todos os dias, desde
muito antes dos meus 16 anos.
Este post era para falar das dores do amor, mas eu termino
aqui com a saudade dos fins de tarde em que eu era feliz conversando, rindo ou
apenas ouvindo música com eles, os meus amigos da adolescência. Termino agradecendo
pela vida deles e de seus filhos, nossa continuidade nesse plano. Ana, Renata,
Mateus e Maurício. Clara, Hallina, Ludmila, Maya, Lia, Laura e Vinícius.
Nenhum comentário:
Postar um comentário