domingo, 16 de agosto de 2015

Até breve, Biscoitinho!


Os dias sem você têm sido muito estranhos. Na maior parte do tempo, você estava sozinha, quietinha, na cama, no buraco do sofá, tomando seu solzinho. Nunca foi de estardalhaço, barulho e grandes brincadeiras. Mas você sempre estava ali, atenta a tudo à sua volta, me acompanhando pela casa.

Minha titica de gente, era sempre a mais limpinha das cachorras. Nunca tomava chuva, não chafurdava na lama, se pudesse levantava todas as paticas pra fazer seu xixizinho.

Você era a menor dos meus monstrinhos, ficou ainda mais levezinha nos últimos dias, mas seu amor sempre silencioso não foi o menor de todos.



Ainda estou tentando entender o que aconteceu. Vejo e revejo fotos e vídeos para encontrar uma explicação. Ainda não encontrei. Só sei que você se foi nos meus braços, pouco tempo depois de eu dizer que ia ficar com você no quarto porque estava te achando amuadinha. Nem deu tempo te de fazer um carinho. Tivemos que sair correndo e tudo aconteceu. Foram duas horas longas e doloridas.

Todos esses dias fiquei revendo nossas histórias, desde quando te conheci...

Há cinco anos, seu pai passou três meses falando sobre você e como você fazia companhia a ele na CT todos os dias. Como dormia embolada nas roupas sujas dele, como tinha que se esconder da Kiara, de como era amorosa. Das minhas visitas, lembro apenas de tentar me aproximar e você não se importar com a minha presença.

Mas o dia da adoção está bem claro na minha mente. Fui acordada logo cedo para ir buscar seu pai. Um susto, algo que se anunciava, mas não era exatamente esperado. Lá, ele perguntou se te levaríamos embora, mas ninguém sabia onde você estava. Naquela época, Mel e Juana reinavam sozinhas e eu não sabia ao certo se queria outro cachorrinho. Mas, você, sempre ligeira e faceira, apareceu quando entrávamos no carro e nos preparávamos para sair. Foi, para mim, o sinal de que você seria nossa menina amarela. Já tínhamos a branca e a preta. Faltava mesmo você.

Lembro do seu pavor quando saiu do carro em casa e as duas loucas pularam em cima para te reconhecer e cheirar. Você se escondeu debaixo do carro.

Lembro do seu assombro, na porta da sala, sem entrar. Por uma semana, você reconheceu o espaço e foi, a cada dia, entrando em um lugar diferente, ainda sem ter certeza de que poderia viver dentro de casa. Tinha dias que parava no meio do corredor, em pé, e lá ficava.

Mas, em um mês, já dormia grudada nas minhas pernas. Eu sinto falta disso todo dia. Quando me ajeito na cama, falta um pedacinho debaixo das cobertas.

Até o ano passado, quando o Zé Luís chegou e você fugiu pela última vez, dando um baile em mim ao sair pela janela da sala e passar pelo portão aberto, eu pedia em pensamento e palavras que você nunca nos abandonasse. Que você gostasse da gente, de viver na nossa casa.

Eu sabia que você havia vivido muito tempo na rua. Que seu comportamento arredio, suas desconfianças, as marquinhas de agressão no seu corpo nos contavam a história de alguém que lutou para comer e sobreviver entre os maiores. Sabia que gostava de passear, estar ao ar livre, ser livre. Mas não queria que você fosse embora. Com o tempo, quando eu te perguntava se você me amava, você me dava uma lambida.


Sempre quis saber sua história. Mas, na verdade, acho que ela começou mesmo na CT, com o Rex, seu namoradão. E depois com seu apego à Juana, sua protetora natural, com quem formou a nossa melhor dupla: Batman e Robin. Era muito bom ver você dormindo na barriga dela ou com a cabecinha no pescoço ou nas costas dela.

Apesar das minhas tentativas de fazer de você um bebê como as outras, por até dois anos, você só queria ficar no meu colo depois dos banhos, para eu te secar e te esquentar. Nunca teve muito jeito para isso. Ficava tortinha nos braços e no colo. Mas eu gostava mesmo assim.

Foi quando seu pai voltou para a CT que você se tornou, de fato, minha pessoinha. Grudou em mim, virou minha sombra. E daí surgiram nossas muitas brincadeirinhas, os apelidos intermináveis, nossas musiquinhas.
Acho que você sabia o que tudo aquilo significava para mim, afinal era uma cãoterapeuta treinada na melhor escola. Sabia como a presença de um animal podia recuperar e salvar uma pessoa.

As lembranças são muitas e provavelmente daqui a algum tempo eu me lembre de tantas outras histórias como essas que me fazem sorrir e chorar...

Quero dizer também que hoje eu vim aqui para te contar que eu ainda canto as musiquinhas quando brinco com o
Chico, que eu ainda pergunto onde você está, acho horrível aquele buraco no sofá sem você, que olho pro lado na cama e sinto falta da minha gentinha deitada no travesseiro. Vim aqui dizer que eu amo os seus pulinhos, suas lambidas loucas, seu medo de chuva e de rojão. Amo suas fugas ensandecidas, que me fazem correr pela rua descalça e com o coração disparado pelo medo de não te pegar nunca mais. Amo sua vontade infinita de correr e passear, amo suas patinhas pequenas e suas unhas longas, suas garras afiadas para atacar quem se atrever a te machucar.

Eu amo quando você tira meu creme das penas com as lambidinhas, amo o buraco que você fez no sofá, seu jeitinho de rosnar pros outros cachorros, seu latido na janela que é quase um gritinho, a bolinha que você faz ao se ajeitar para dormir, mesmo que seja no meio das roupas limpas que eu acabei de tirar do varal.

Eu amo os arranhões na minha perna quando você está feliz ou quer me pedir algo no caminho para a cozinha, eu amo seu jeitinho de tomar sol todo dia, amo dar banho em você, que é o mais rápido de todos.


Amo fazer as pentelhadinhas de Xuxinha e esticar as suas orelhas fazendo "biiiiscoito", nossas brincadeirinhas favoritas. Amo cantar "Xuxinha bonitinha". Amo sua carinha de quem sorri. Amo quando você tira carrapatos dos outros cachorros e quando me mordisca a perna e os braços. Amo ser sua mãe. E lamento muito não ter feito mais para você, não ter evitado sua partida, para mim ainda precoce, apesar de não saber quantos aninhos você tinha de verdade.

Também vim te contar que a Juana ficou um dia inteiro deitada sobre as roupas limpas, como você fazia e nada a tirou de lá. Que o Zé Luís está triste e que a Hanna me olha querendo saber onde você está quando pego sua coleirinha. Que esta noite eu sonhei que encontrava duas filhotinhas na rua iguais a você.


Vim te diz quer da última vez que perdi um amigo de quatro patas foi há 13 anos, depois de 9 anos de convivência e cumplicidade, mas eu não estava com ele naquele momento. Com você foi diferente. Estive ao seu lado nos seus últimos instantes. A dor de te ver ir embora foi insuportável, mas uma coisa me consola e é maior do que o resto: 
sei que para você foi importante eu estar ali. Você foi embora ouvindo a minha voz, sentindo o meu calor no seu corpinho e tenho certeza de que isso te deixou mais confortável, mais segura. Tenho certeza que você sentiu o tamanho do meu amor. E, por isso, aposto que logo estará de volta, Xuxu.


Eu fico em paz, Pacotinho, porque eu sei que você não sofreu. Eu te queria aqui comigo, mas não queria te ver sofrer. Sei que você entendeu as minhas palavras enquanto sua respiração voltava e, por isso, partiu em paz.



Meu biscoito, meu pacotinho, minha linguicinha, meu Robin, meu coraçãozinho, meu pischerbull, quero que você saiba, aí de onde você estiver, junto com o Dungão, a Pandora, o Rick Splinter e o Herói, que eu te amo infinitamente!! E estou esperando pela sua volta. Até breve!








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