terça-feira, 10 de novembro de 2015

Uma vida de arroz e mandioca...



Quando me dei conta de quantas coisas no mundo têm glúten em sua composição, minha sensação mais forte era de ser uma completa idiota. Tive tanta raiva do mundo que eu poderia estapear várias vezes todos esses estúpidos que vivem por aí fazendo dietas restritivas sem necessidade.

Claro, cada um come o que quer, quando quer e isso não é problema meu. Cada um com seus problemas. A questão não é essa, embora tenha lido em várias publicações especialistas dizendo que quem não tem restrição a glúten não deveria tirá-lo de sua dieta.

Ao me deparar com os alimentos que nunca mais poderei comer, 
a menos que queira passar mal novamente, até o fim da minha vida - e isso quer dizer mais uns 30, 40 anos, com sorte, porque não pretendo viver mais que isso - me lembrei de uma conversa que tive na academia com uma pessoa que corria na esteira ao lado da minha. Na época, eu havia emagrecido entre 12 e 15 quilos, mas a colega me sugeriu tirar os alimentos com glúten da alimentação para perder mais peso. E em seguida me relatou que não comia mais pães e massas. 


Hoje, eu gostaria muito de encontrá-la novamente para perguntar se ela realmente tirou todo o glúten da dieta. Porque deixar de comer pão, pizza, bolo, biscoito, macarrão por causa do glúten, maravilha. Mas será que ela e as outras pessoas que dizem fazer dieta restritiva tiraram mesmo TODO o glúten de sua alimentação?

Será que elas olharam os rótulos dos cereais, dos iogurtes, dos molhos, do risoto pronto, do ovomaltine, das cervejas, da aveia, da barra de cereal, dos chocolates para conferir se tinha ou não o famigerado glúten?

Será que, assim como eu, essas pessoas deixaram de tomar cerveja ou uísque porque neles há traço de glúten? Será que nunca mais comeram queijos, embutidos, almôndegas, lanches e sorvetes porque neles há glúten?
Não preciso perguntar pra saber. E dou dois dedos meus se alguém com dieta restritiva se privar 100% de tudo o que tem glúten como eu e os demais celíacos temos que fazer. Dois dois dedos meus se essa gente fizer como as mães das crianças APLV, que ficam enviando emails para as indústrias alimentícias para pedir laudos e pareceres técnicos sobre a presença de lactose, proteína do leite, soja, ovo, peixe e amendoim nos produtos que querem comer, mas que não podem para que seus filhos não adoeçam. Sinceramente, nem sei o que, por fim, essas mães comem...

Dois dedos por alguém não celíaco que deixa de comer um doce com glúten ou fica 
numa festinha sem comer nada porque tudo o que tem é com glúten.


Dia desses, a EPTV São Carlos fez uma matéria com pessoas que fazem dieta restritiva para glúten e um dos entrevistados disse sorrindo - é a realidade dando socos na nossa cara - que não come glúten, mas todo dia come pão francês. Amigo, vai à merda!!

Ficar por aí pagando de "sou o bonito que não come glúten" é uma graça na academia, pega superbem com o instrutor, com os coleguinhas,  mas não tem efeito nenhum pra quem nunca mais vai poder ingerir qualquer uma dessas coisas listadas acima sem ter dermatite, diarreia, cólicas intestinais, dores de estômago, fraqueza, sintomas de depressão, dor de cabeça, cansaço e perda de peso, exatamente meia hora depois de se alimentar. É, a gente não precisa de muito tempo pra saber que algo está errado.

Como disse minha amiga Erika Tonelli, que vem travando essa batalha porque o pequeno Matteo é APLV, nunca meu quadril será tão estreito! Por enquanto, ainda não cheguei lá. Mas, mesmo que estivesse lá, não faria com que eu me sentisse menos idiota ao olhar o rótulo de todos os chocolates do mercado na esperança de que um deles tivesse a inscrição "Não contém glúten".

Só pra constar, se você quiser alegrar meu dia, Kinder Ovo, Kinder Chocolate e brigadeiros feitos com Chocolate do Padre em Pó e algumas marcas de achocolatado (as duas mais conhecidas não podem ser usadas) não contêm glúten. E têm me salvado nas crises de TPM. 



Aliás, esse é um movimento aconchegante. Depois desse advento, todas as pessoas do seu convívio passam a olhar os rótulos para ver se tem ou não tem glúten. E toda vez que encontrarem uma placa de "Sorvete sem glúten" ou "Chocolate sem glúten" imediatamente seu nome surgirá.
Mas sempre vai ter alguém que acha que "um pouco pode". Isso acontece mesmo entre aqueles que já estão cansados de te ouvir falar de glúten. Não, não pode. Não pode um pouco, não pode fritar no mesmo óleo. Não pode assar no mesmo forno. Não pode usar a mesma colher. Não pode colocar na mesma vasilha. Não pode usar a mesma buchinha para lavar. Porque os traços provocam a mesma reação de um pedaço de pizza.

Ou seja, para mim, que sempre disse que a comida era o meu vício, o glúten é a minha droga. E vale a mesma máxima da reabilitação que diz "Um é muito, mil é pouco". Isso quer dizer que devemos evitar o primeiro pedaço porque, uma vez contaminados, tanto faz se comemos um pedaço ou morremos de tanto comer. A abstinência já foi embora!!

Vamos lá, então, viver uma vida de arroz e mandioca, porque é tudo o que nos resta!








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