segunda-feira, 2 de novembro de 2015

Doença celíoque??




A primeira vez que ouvi falar de doença celíaca foi na faculdade. A cena marcante ainda hoje me faz rir, apesar da representação que o problema tem hoje em minha vida.

Era uma noite de gravação de programa de rádio, eu e Silvio apresentávamos quando ele dá um grita no estúdio: "Doença celí o que? Quem colocou isso no texto?". Por meia hora, a gravação parou porque fez-se o furacão.

Cris colocou aqui no texto. Ela era estagiária da Rádio Unesp e fazia boletins informativos das pesquisas científicas de todas as Unesps. Aquela, coincidentemente, era de uma professora de Botucatu, mãe de amigos de amigos meus. Quem diria que a professora Cereda ia fazer mais que emprestar a casa para jogarmos computador nas tardes quentes.

Passados tantos anos desde o Ensino Médio em Botucatu, outras tantos desde a faculdade em Bauru e cá estou eu em Araraquara diante da doença celíaca.

Há alguns meses, uma série de adventos físicos têm acometido meu corpo e minha mente. Em nenhum momento, juntei tudo. Até porque sei tudo de doenças, né. Também não me preocupei muito em cuidar nem de uma coisa, nem de outra. Não tinha disposição pra nada.

Mas, então, em junho, depois de uma viagem para Foz do Iguaçu, percebi que estava perdendo peso sem esforço. Pra muita gente, a notícia poderia ser alvissareira. Pra mim, foi um susto. Mais de 20 anos brigando com o próprio corpo, engorda, emagrece, e um guerra pra perder peso e manter o corpo na mínima ordem possível.

Depois de mais algumas semanas, o pior aconteceu: perdi tanto peso que perdi uma calça. Nesse momento, fiquei com medo. Um médico me disse, certa vez, que isso só poderia acontecer com alguém se a pessoa estivesse com câncer, aids ou tuberculose. O diagnóstico, felizmente, não foi tão devastador. Mas me desconcertou. "Deu positivo para doença celíaca. A partir de hoje, você não pode mais comer glúten. Vá no mercado e olhe tudo, ok?"


Tá bom, doutora, olho tudo. Mas não ia olhar. Afinal, é fácil. Não tem glúten onde tem farinha de trigo. E tem trigo em pães, massas. Ponto. Foi a primeira vez que chorei comprando comida. Não, amigo, o mundo é feito de glúten. Além do pão francês e todos os outros tipos de pães que eu amo e encontro no mercado e na padaria, estão o macarrão, a massa de lasanha, os lanches, as pizzas, os iogurtes, queijos, carnes embutidas, molhos prontos, sopas prontas, risotos prontos, miojo, alguns tipos de sorvete, achocolatado, leite condensado, bolos, cerveja, uísque.... A lista parecia não terminar nunca. Na verdade, acho que ainda não descobri tudo o que não posso comer...
Pra você que tem dúvidas sobre o que é a doença celíaca, uma historinha rápida. É uma doença autoimune e, como tal, ela se defende de um ataque que não existe.

Nesse caso, o vilão é o glúten. Então o corpo pega o glúten (uma proteína presente no trigo) e tudo o que vem com ele e joga fora. Daí, sofremos com perda de peso porque nenhum nutriente é absorvido, queda de cabelo, fraqueza, depressão, desânimo decorrentes da falta de vitaminas etc, dores abdominais terríveis, diarreia (é a tal da síndrome do intestino irritado), osteoporose, dermatite herpetiforme (e essa coceira filha duma puta) e, se eu não produzisse ferro em excesso, teria anemia. Não é intolerância, não é alergia. Não tem cura. Não tem outra saída a não ser parar de ingerir glúten.
Desde o dia do diagnóstico, meu mundo agora se resume a farinha de mandioca e farinha de arroz. Dentro de mim, houve muita revolta, como sempre digo, me senti uma idiota por não poder comer mais as coisas que eu mais gosto, mas agora, passados quase dois meses, entendo o que a vida, o mundo, Deus, eu mesma fizemos por mim. Eu não parei, então meu corpo fez essa gentileza. Além disso, pra quem tinha um diagnóstico de pré-lúpus, a vida tá bem fácil. Vou comer tapioca todo dia e jamais vou reclamar.



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