Logo
depois do Natal alguns dias de folga e, como não podia dirigir, fui para a praia
de ônibus e aproveitei para fazer algo que adoro - ler durante a viagem.
Escolhi
um livro que comprei há tempos - tenho o hábito de sempre entrar nos sites das
livrarias e procurar livros com desconto, principalmente de autores que eu
nunca li... Este é um caso de "Dossiê H", de Ismail Kadaré, autor albanês que escreveu também "Abril Despedaçado", a mesma história do filme de Walter Salles.
Tirando
esta adaptação para o cinema, o escritor não é muito conhecido por aqui, mas na
Albânia ele é a principal referência em literatura.
Nunca
tinha lido nada dele até então. O livro estava lá entre os outros fazia uns
quatro anos e não sei por qual motivo nunca tinha me empolgado em lê-lo antes.
Também não sei explicar porque quis ler desta vez.
Para quem
gosta de conhecer autores de outros países, fora da lista dos cânones, vale as
horas de leitura. Quem quiser se aventurar por outras obras dele, indico “Abril
Despedaçado" e "O General do Exército Morto".
Gostei de
"Dossiê H", porém ele não empolga qualquer leitor. Muita gente não
passaria da vigésima página. Mas eu, com alguma insistência, fui em frente e
fiquei feliz com o resultado.
A chegada
dos estrangeiros mobiliza toda a comunidade local, principalmente o subprefeito,
que acredita se tratar de espiões porque a epopéia é a metáfora do autor para
tratar dos conflitos nos Bálcãs, dos combates históricos entre Albânia e
Sérvia.
Falando
assim, parece de fato interessante... pelo menos a mim interessaria... mas o
detalhe é que quem não curte teoria literária vai achar um porre. O tempo todo
os personagens ficam falando sobre as relações entre a epopéia de Homero e a
albanesa, porque os rapsodos omitem um trecho da epopéia em dado momento e
lembram em outro, quais os fatores que levam ao esquecimento, como os
personagens da história grega se assemelham com os da albanesa... e por aí vai.
Para quem
curte teoria literária é um prato cheio, dá para fazer várias considerações
junto com eles, mas quem não gosta não lê mais que 20 páginas...
É
interessante também como ele relaciona a cegueira de Homero com a cegueira de
um dos personagens principais, a dos próprios rapsodos e a necessidades de
ouvir mais do que ver para se contar boas histórias.
Também gosto como ele intercala a narrativa principal com narrativas paralelas,
em que aparecem os relatórios do informante - texto truncado e técnico admirado
pelo subprefeito - e as anotações de um dos pesquisadores.
Fora isso, é rápido e bom de ler também deitado na areia da praia, tomando sol
e ouvindo o barulho do mar. Ai...
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