Texto publicado em 06 de outubro de 2008 no blog
Paulo Coelho não é Literatura!
Madrugada de sábado para domingo, véspera de eleição - sinônimo de alerta vermelho no trabalho -, dezessete horas seguidas na redação e, quando chega o momento do descanso, tudo o que podia acontecer para melhor a minha vida era ter insônia. Como sempre tenho livros ao lado da cama, resolvi ler.
Escolhi dois livros que a Global Editora me mandou
uma semana antes e que ainda não tinha tido tempo de ver. Eram duas adaptações
de teatro jovem. Coisa fácil de ler. Mas odeio adaptações porque é aí que os
clássicos se perdem. Dizem que é um incentivo, mas ninguém lê uma adaptação vai
ler o original e os jovens nunca vão ler os clássicos... É o que penso...
Incentivo é educar o sujeito, dar bons livros para ele na infância e, então,
adulto, ele irá chegar às boas leituras.
Um desses presentes da editora era “Três Irmãs”, de
Tchekhov. O outro era “Senhorita Julia”, do dramaturgo August Strindberg, e é sobre
ele que quero falar.
Criador do teatro expressionista
e um dos maiores escritores suecos de todos os tempos, Strindberg é um escritor
novo para mim.
"Senhorita Julia" foi escrito há mais de
cem anos, em 1899 para ser exata, e foi adaptado para o cinema e levado para o
teatro do mundo todo.
Julia é a filha do barão que não se importa de se
misturar com os empregados e acaba se envolvendo com um deles. A princípio, ele
a trata como a princesa que é. Depois de seduzi-la, no entanto, mostra para ela
que ter um título não é nada quando este não é honrado - uma mulher como ela
jamais poderia se deixar envolver por um simples empregado.
Na apresentação do livro, Sábato Magaldi afirma que
“Senhorita Júlia” é a prova de que Strindberg não desdenhava do palco - afinal,
era dramaturgo - mas tinha outra forma de pensar a encenação. Essa suposição de
que ele odiava o palco veio da seguinte declaração: "o teatro - e a arte
de maneira geral - parece-se me sempre uma Bíblia pauperum, uma Bíblia em
imagens para aqueles que não sabem ler o que está escrito ou impresso". A
declaração é pesada, quase reacionária, mas nestas horas é melhor apenas ler os
livros do cara.
PS. Há uma frase dita por Julia que poderia ter
sido dita pelo meu amigo Richard, e aqui segue em homenagem a ele: "A
pobreza deve ser a pior das infelicidades".
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