Quando eu tinha 12 anos, uma das minhas inseparáveis amigas,
Renata Cordeiro, apareceu em casa com um livro de poesias para fazermos uma sessão
de leitura. Na sala da casa da minha avó ou na mureta da casa dela, passávamos
horas acompanhadas deles, Vinícius e sua antologia.
Essas horas com alguns dos poemas não eram suficientes. Consegui
com minha tia Carmen, professora de língua portuguesa e dona de uma estante cheia
de livros que me convidavam para ficar o tempo todo, uma edição só minha. Eram dias
e noites com ele. Anos, lendo, relendo, vivendo os poemas, riscando os livros,
decorando os preferidos.
Nas palavras de Vinícius estavam os desejos e sonhos de um
amor sem limites que eu ainda não conhecia. Um amor devastador, sem limites, de
total entrega e que não importava a quem, ele existia por si mesmo. Só pelo
prazer de ser.
Nunca mais ele me deixou e eu dizia: seria sua décima mulher
se ele ainda estivesse vivo. Queria poemas dedicados a mim, queria músicas
eternizadas inspiradas por mim.
Mas um dia Hilda Hilst me atingiu em cheio. Lá no Livro das
Letras diz ela à História que ele não sabia amar. Ela preferia que seus amantes
lessem as poesias dele na cama para ela a estar com o próprio autor.
Havia algo de errado nisso, mas não pensei de imediato no estrago que ele fazia em minha vida. Só muitos anos depois, em meio a Que é melhor se sofrer junto que viver feliz sozinho”, “Viver cada segundo como nunca mais”, “o amor (...) é a vida quando chega sangrando aberta em pétalas de amor”, “a vida só se dá pra quem viveu, pra quem amou, pra quem chorou, pra quem sofreu”.
tantas experiências (sem
adjetivos pra elas, é mais prudente), olhando pra dentro de mim, consigo ver
que a culpa toda foi desse “quero vivê-lo em cada vão momento”, “rir meu riso e
derramar meu pranto”, “em seu corpo morrer de amar mais do que pude”, “Havia algo de errado nisso, mas não pensei de imediato no estrago que ele fazia em minha vida. Só muitos anos depois, em meio a Que é melhor se sofrer junto que viver feliz sozinho”, “Viver cada segundo como nunca mais”, “o amor (...) é a vida quando chega sangrando aberta em pétalas de amor”, “a vida só se dá pra quem viveu, pra quem amou, pra quem chorou, pra quem sofreu”.
Acreditei que a vida era isso mesmo, Vinícius. Me jogar do
precipício com a certeza de que tudo ficaria bem, mesmo que algo não saísse assim
como o programado, mesmo que eu encontrasse
os piores tipos pelo caminho... Eu daria conta de viver, eu seria forte o
bastante para sair ilesa desse esfaqueamento que é o amor.
Pensando bem, deve ter faltado uísque, só pode. Porque eu
estou sempre assim, aos pedaços. E a culpa, a culpa é sempre sua.
Sobre o amor partido, Fer...
ResponderExcluirAusência
Eu deixarei que morra em mim
o desejo de amar os teus olhos que são doces
Porque nada te poderei dar
senão a mágoa de me veres eternamente exausto
No entanto a tua presença
é qualquer coisa como a luz e a vida
E eu sinto que em meu gesto
existe o teu gesto e em minha voz a tua voz
Não te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminado
Quero só que surjas em mim
como a fé nos desesperados
Para que eu possa levar
uma gota de orvalho
nesta terra amaldiçoada
Que ficou sobre a minha carne
como nódoa do passado
Eu deixarei...
tu irás e encostarás a tua face em outra face
Teus dedos enlaçarão outros dedos
e tu desabrocharás para a madrugada.
Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu,
porque eu fui o grande íntimo da noite.
Porque eu encostei minha face na face da noite
e ouvi a tua fala amorosa.
Porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa
suspensos no espaço.
E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado.
Eu ficarei só
como os veleiros nos pontos silenciosos.
Mas eu te possuirei como ninguém
porque poderei partir.
E todas as lamentações do mar,
do vento, do céu, das aves, das estrelas
Serão a tua voz presente,
a tua voz ausente,
a tua voz serenizada.