A literatura infantil é algo que eu amo, em que eu
acredito e defendo. Adoro livros infantis e leio-os sempre que posso. É o
começo de tudo. Nenhum adulto - poucos, talvez com muita sorte - será um leitor
assíduo se não tiver um histórico de contato com os livros desde a infância. São eles que despertam a criança para a magia das
histórias contadas por palavras em conjunto com belas imagens.
Tenho alguns livros preferidos, que considerava
imbatíveis e um deles traz uma lição muito importante para qualquer pessoa, em
qualquer fase de sua vida: é preciso estar atento aos sinais que vida nos dá. Muitas
vezes, a felicidade está tão próxima, mas nos fechamos os olhos e a ignoramos.
E, por acaso, foi o que aconteceu comigo e o livro "A tartaruga e a
boneca" (Marcia Leite/Flavio Fargas). Ele ficou na pilha de novos livros
para ler por um ano. Não sei porque não havia lido antes e não sei porque li,
em meio a tantos outros disponíveis.
Tenho pra mim que um bom livro infantil começa na
apresentação de seus autores. A descrição que cada um faz de si já indica a
qualidade do conteúdo. Este não foge à minha regra.
O livro publicado pela editora mineira Autêntica,
que tem um histórico de boas publicações - quem gosta de turismo, belas imagens
e culinária regional, por exemplo, tem de ver "Do doce ao sal” - conta a
história de uma boneca que cai no mar durante um passeio de barco com a sua
dona. Uma grande tartaruga a encontra. Além de evitar que ela se machuque, a
tartaruga sai com ela em busca daqueles que a perderam.
Anos e anos se passam e a boneca continua
alimentando a esperança de reencontrar sua menina e voltar a ser feliz. Ela
está desgastada pela ação do tempo, a tartaruga já não tem mais a mesma agilidade
- se é que se pode dizer assim -, mas ela não desiste. Até que um dia, algo a
faz entender que sua verdadeira dona é outra, há muito tempo.
Nestas buscas, a história mostra de forma
metafórica e muito delicada como dois seres completamente diferentes podem
viver uma relação de harmonia, amor, amizade e companheirismo se não houver
pré-julgamentos, preconceito e falta de respeito.
Os tons das ilustrações tornam a narrativa ainda
mais suave e envolvente. Não há quem não queira estar lá, em alto mar ou à
beira-mar, com a tartaruga e a boneca, longe da vida de encontros e
desencontros e pessoas estranhas.