quarta-feira, 19 de março de 2014

O Amor nos Tempos do Cólera: minha história de amor preferida

Este texto foi escrito em abril de 2012, para o blog Paulo Coelho Não é Literatura!. Descobri que posso gostar do que escrevo depois de passados alguns anos. Só faltou dizer que também gostei muito da trilha com a Shakira!. Boa leitura!




Por cinco anos, eu relutei em ver o filme que adaptava para o cinema a obra literária "O Amor nos Tempos do Cólera", de Gabriel García Márqu
ez. Por princípio. Porque as limitações de um não vão nunca contemplar toda a amplidão do outro. E, assim, é impossível o produto do cinema ser melhor ou tão abrangente que o produto da literatura. Gritem, rosnem, me atirem pedras. Quem ama a literatura e só aprecia o cinema vai concordar comigo. Mas, também, se não concordar, paciência.


Em um momento anterior, neste blog, escrevi sobre "O Leitor" e, sim, disse que gostei muito mais do filme do que do livro. O primeiro me tocou, me em
ocionou. Fui ao segundo e me decepcionei. Mas, neste caso, os elementos que encorparam o filme é que deram à narrativa os elementos mais fortes dessa história entre um jovem apaixonado por uma mulher misteriosa e a ligação entre eles a partir palavra escrita que ela só descobriu na vida adulta.

Voltando a Gabriel García Márquez, acabei me rendendo ao filme porque não aguentei de curiosidade sobre o que afinal fizeram com minha história de amor preferida. Armada de gritos e protestos, acabei em lágrimas. Porque o roteirista deve também amar esta história e não quis corrompê-la.

Mesmo com atores badalados e o pior dos piores crimes - ninguém falava espanhol no filme e todos tinham sotaques bizarros, do tipo ator carioca da novela da Globo falando com sotaque nordestino -, o filme não teve ares hollywoodianos. As pessoas são bonitas, mas não são perfeitas, os velhos são velhos, não são azeitonas com algumas rugas; as cenas são quentes e úmidas o bastante para se ter uma impressão de forte calor, sujeira e morosidade. Enfim, não é um castelo no Monte Olimpo.


O mais importante é que o conjunto de cenas foi capaz de mostrar a grandeza do amor do Florentino Ariza por Fermina Daza. Mesmo com suas 600 mulheres, ele separou sexo de amor e todos os outros elementos sublimes de que esse sentime
nto vem acompanhado e que preenche o ser humano - dedicação, esperança, força, esmero, presença. E, por outro lado, como a falta de amor pode tornar uma pessoa vazia de propósitos e cheia de mágoas, dores, ressentimentos, interesses vis.

Lamentavelmente, o diretor teve pudores e tirou dos diálogos uma das minhas frases preferidas e parte de uma delas. 


"Convenceu-a de que a gente vem ao mundo com as trepadas contadas, e as que não se usam por qualquer motivo, próprio ou alheio, voluntário ou forçado, se perdem para sempre" caberia no contexto, mas não passou perto do filme nessas palavras. 

Mais ao fim, Fermina pergunta a Florentino: "Até quanto tempo o senhor acha que podemos ficar nesse ir e vir do caralho?" A que ele responde: "Por toda a vida". O diretor preferiu suprimir o palavrão.


Florentino diz a Fermina que chegou o momento de pensarem no que fazer com o amor que acumularam durante toda a vida e que ficou sem dono. 

E o desfecho: "Depois de 54 anos, sete meses, onze dias e noites, meu coração finalmente se realizou. E eu descobri, para a minha alegria, que é a vida e não a morte, que não tem limites."

Lendo o livro, vendo o filme, dá até para acreditar que é possível. E que o amor não acontece apenas para poucos. 








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