Ontem à noite presenciei uma conversa entre um senhor de uns 65 anos e sua neta de 10 que me mostrou claramente os conflitos e transformações da educação em um país colonizado e que ainda luta para se livrar das amarras ideológicas implantadas por seus "senhores".
Há mais de 20 anos, quando eu estava nos primeiros anos de escola e mais tarde também, no colegial, os professores de História tratavam a chegada dos portugueses ao Brasil como uma descoberta. Desconsideravam o fato de que este não era um lugar vazio e desabitado. Havia gente, mais de cinco milhões de pessoas na verdade, nestas terras continentais. Mas ninguém dava os créditos a quem por direito deveria ocupar tudo isso até hoje, mas precisa lutar e derramar sangue para conseguir um lugar ínfimo para viver. Pouco se falava sobre chacinas e dizimação de povos.
Mas parece que algo nesta história tem mudado. Assim como a história da comunidade afrobrasileira tem sido mostrada, compreendida e contada de outra forma desde a lei 11.645, de 2008, a das nações indígenas também ganhou um novo verso nos últimos seis anos. A julgar pela conversa entre avô e neta, resta, um buraco entre as gerações e a forma como aprenderam sobre o assunto.
Inicialmente, não entendi muito bem do que se tratava a conversa entre eles, mas como a menina estava agitada, falante e desafiando o avô, me prendi em seu comportamento. O avô percebeu e se voltou a mim, dizendo: "Está difícil fazer essa menina entender que foi Pedro Álvares Cabral que descobriu o Brasil". Eu sorri e disse: "É? Mas por quê?". "Porque ela fala que foram os índios que descobriram o Brasil, você acredita?".
Rapidamente, a mocinha se explica, olhando para mim. "Mas foram os índios. O Brasil era terra indígena quando os portugueses chegaram aqui" (sim, ela usou essas palavras, para meu assombro!!).
Sem nem pensar, eu disse. "Você está certa, é isso mesmo. Eles vieram até aqui, mas já tinha muita gente morando no País".
"Então, eu disse isso, mas o meu avô não acredita".
O avô volta à conversa me falando "está vendo, ela está aprendendo tudo errado". E ela ataca novamente. "Eu estou certa". Ele responde: "Não, filha, os portugueses descobriram o Brasil. Quando tinha índio aqui não se chamava Brasil".
Muito ágil, ela explica a ele que o nome não importa, o lugar era o mesmo e já tinha dono.
A conversa terminou com a pequena propondo uma aposta entre eles. Ela ia provar que estava certa e ele teria que dar a ela R$ 20. Se ele estivesse certo, ela daria a ela R$ 50.
Dos projetos que nasceram a partir da lei 11.654 destaca-se o site Índio Educa (http://www.indioeduca.org/), espaço que dá suporte ao ensino sobre etnias e tribos brasileiras com textos - todos eles - escritos por indígenas e que merece ser conhecido e divulga.
Por ora, fica aqui a minha homenagem aos professores e professoras dessa menina que estuda no 5º ano da Escola Jarnira Nery Gatti, no Jardim Imperador, em Araraquara.
Realmente...O Cabral só levou os créditos...
ResponderExcluirMuito legal a menininha tentando culturalizar o Avô que foi vítima da desculturação histórica imposta pelo ensino durante anos e anos.
Os velhos homens humanos do continente sul-americano são ameríndios. Os nativos dessas terras possuem, ainda possuem, uma cultura de solução para a humanidade. Alvíssaras, a transformação do nosso povo sob a concepção da cultura ameríndia. Valeu.
ResponderExcluirClaudio - 27/03/14 - 12:40
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